sábado, 15 de outubro de 2011

Queixa

Nunca fiz mal a ninguém. Nunca impus sofrimento físico nem psicológico a ninguém - exceto quando garoto, afogando formigas e salgando lesmas. Nunca matei um passarinho, por péssima pontaria, nem atirei num presidente pela mesma razão. Nunca bati numa cara nem chutei uma canela. Nunca quis matar um patrão, a não ser em fantasias fugazes, nem violentei uma freira a não ser na mesma circunstância. Nunca belisquei nem dei palmadas numa criança, nunca bati numa mulher - ao contrário, sempre ofereci a outra face. Nunca submeti um empregado, porque nunca fui patrão porque nunca soube submeter. Uma vida inteira assim, que não é pouca. É isso. Espera o quê a Academia Sueca pra me honrar com o Nobel da Paz?

2 comentários:

  1. Jorge Luís Borges e Patativa do Assaré (os dois eram cegos, além de poetas) também foram esquecidos.

    ResponderExcluir
  2. Também não entendo porque ainda não te agraciaram.

    ResponderExcluir