segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Tudo certo (à guisa de crônica)

São Paulo, 12:10 h , 23 graus , umidade relativa do ar garganta seca e olhos ardendo.
Na frente do ponto de ônibus, na Av. Aclimação, tem um buraco, velhinho já, deve completar um ano em novembro. Na verdade não é um buraco,  é que o asfalto, assentado 10 cm sobre o paralelepípedo,  cedeu , talvez pelo peso dos ônibus, e formou ali uma panela larga, com um metro de diâmetro mais ou menos.
De um prédio próximo despejam diariamente, não se sabe por que, uma quantidade imensa de água -  água limpa, ou de aparência limpa -, que empoça no buraco antes de chegar no bueiro, e fica ali, à disposição de eventuais interessados. Pois um mendigo – não gosto da expressão “morador de rua”, dá impressão de que é opção, o que nem sempre é – interessou-se. Aproximou-se da poça com uma garrafa de plástico contendo algumas folhas de boldo, abaixou-se, abriu a tampa da garrafa, encheu-a com a água da poça, fechou de novo, chacoalhou um bocado, abriu e bebeu. Bebeu tudinho. Estalou a língua , suspirou satisfeito , juntou as tralhas e seguiu - não sei se pensando no conflito dos EUA com a Coréia ou se no desempenho do Neymar, no jogo de ontem.
Tudo bem. Dizem que o boldo é muito bom pra digestão. E essa água, as pombas , outras moradoras de rua, também bebem.


PS: no ônibus, uma sentença do motorista: “São Paulo é o pulmão do Brasil”.